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domingo, 2 de março de 2014

CAIO E O DRAGÃO DOURADO – Parte 5


CAIO E O DRAGÃO DOURADO (Parte 5)


Caio esperou pacientemente que Camilo recobrasse o equilíbrio emocional. Embora gostasse da companhia do garoto, percebeu que teria que prosseguir sozinho se quisesse mesmo matar o dragão. Depois de hesitar um pouco, Caio finalmente disse:

– A brincadeira acabou, garoto: siga o seu caminho para que eu possa seguir o meu.

Camilo respondeu com o olhar repleto de indignação:

– Também acho melhor que seja assim, porque não quero sujar os meus pés no sangue que você irá derramar.

Caio, começando a perder a paciência, rebateu:

– Espere um pouco! Do modo que você fala, até parece que pretendo começar uma guerra, matar pessoas inocentes, ou sei lá eu o quê!... Eu só quero a cabeça do dragão dourado, é isso! Consegue compreender?

– Não!...

– Camilo, ouça bem: dragões são seres monstruosos, cruéis e desprezíveis. Se não os matarmos, eles nos matarão.

– Raio de Sol nunca matou ninguém.

– Raio de Sol?!... É assim que costuma chamar o dragão dourado?!...

– Ele é meu amigo.

– Bobagem! Ninguém pode ser amigo de um dragão. Não percebe que está vivendo uma fantasia que você mesmo criou na sua mente?!

– Eu não estou mentindo!

– Não precisa se alterar... Sei que não está mentindo. Você é uma criança, e as crianças costumam ter as cabecinhas cheias de sonhos. Inventam coisas não por maldade, e sim para escapar do mundo dos adultos.

– Se eu lhe provar que conheço o dragão dourado, e que ele é mais manso do que você ou eu, você promete que desistirá de matá-lo?

– Sabe que não posso desistir. Já lhe expliquei por que tenho que matá-lo.

Camilo, percebendo que sua insistência ia pouco a pouco esfarelando a tênue obstinação de Caio, resolveu dar-lhe mais uma chance de provar que era diferente dos outros homens que já haviam tentado capturar Raio de Sol. Pôs-se novamente a cantar a canção que ele mesmo havia criado:

"Eu sou criança,
A esperança
De um mundo melhor...

Você é um a-..."

Mas Caio interrompeu-o bruscamente, dizendo:

– Cale-se! Essa canção pode ser perfeita para você, mas não tem nada a ver comigo. Não sei por que esse dragão parece ser tão importante para você. Para mim, é um dragão como qualquer outro e, por incrível que pareça, creio que até já me conformei com a ideia de matá-lo.

Caio olhou para Camilo para verificar o efeito de suas palavras. Era como suspeitava: a mesma expressão contraída, e os dentinhos a morderem o canto do lábio inferior. Caio teve a nítida impressão de que, se o garoto não fosse tão frágil, se não tivesse consciência de sua desvantagem, já teria apelado para a agressão física.

Nesse ponto Caio não se enganara... Camilo já o tinha visto brigar com aqueles homens que tentaram assaltá-lo. Caio era forte e corajoso... Nem ele, nem tampouco Raio de Sol teriam a menor chance de enfrentá-lo, e Camilo o odiava por isso.

O ódio nos olhos de Camilo era tão cristalino que Caio pôde senti-lo como uma espada fria e afiada a atravessar-lhe o coração. Caio exclamou:

– Eu desisto!

Embora Camilo permanecesse calado, nos seus olhos, o ódio já começava a tingir-se de esperança.

Percebendo isso, Caio acrescentou:

– É verdade! Eu me rendo: você venceu! Vamos conhecer o seu dragão dourado.

Um sorriso iluminou por completo o olhar de Camilo. E Caio, mesmo com receio de que esse sorriso se apagasse, disse:

– Mas, ouça bem, se esse seu dragãozinho não for tão manso quanto você diz que é, teremos que dar cabo dele... Concorda?

O sorriso não se apagou, e Camilo respondeu:

– Ele é manso; você verá. Se não fosse por mim, ele já teria morrido. Sou eu que o alimento e o protejo.

Fingindo acreditar no garoto, Caio exclamou:

– Você é corajoso! Mas não acha que essa é uma tarefa muito perigosa para um garotinho da sua idade?!

Caio ficou intrigado, quando Camilo respondeu:

– Para ser sincero, acho sim. Os outros homens que vieram atrás de Raio de Sol não eram como você. Eram mais cruéis do que corajosos, e Raio de Sol e eu tivemos que dar duro para nos livrarmos deles. Vai ser muito bom termos você do nosso lado.

Caio abanou a cabeça e sorriu ao pensar que era Camilo quem parecia um raio de sol, e não o dragãozinho que ele inocentemente havia criado em sua imaginação.

Camilo também parecia feliz, e os dois partiram cantando a canção de Camilo.


Sisi Marques

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