CAIO E O DRAGÃO
DOURADO (Parte 5)
Caio esperou pacientemente que Camilo recobrasse o equilíbrio emocional. Embora gostasse da companhia do garoto, percebeu que teria que prosseguir sozinho se quisesse mesmo matar o dragão. Depois de hesitar um pouco, Caio finalmente disse:
Caio esperou pacientemente que Camilo recobrasse o equilíbrio emocional. Embora gostasse da companhia do garoto, percebeu que teria que prosseguir sozinho se quisesse mesmo matar o dragão. Depois de hesitar um pouco, Caio finalmente disse:
– A brincadeira
acabou, garoto: siga o seu caminho para que eu possa seguir o meu.
Camilo respondeu com
o olhar repleto de indignação:
– Também acho melhor
que seja assim, porque não quero sujar os meus pés no sangue que você irá
derramar.
Caio, começando a
perder a paciência, rebateu:
– Espere um pouco! Do
modo que você fala, até parece que pretendo começar uma guerra, matar pessoas
inocentes, ou sei lá eu o quê!... Eu só quero a cabeça do dragão dourado, é
isso! Consegue compreender?
– Não!...
– Camilo, ouça bem:
dragões são seres monstruosos, cruéis e desprezíveis. Se não os matarmos, eles
nos matarão.
– Raio de Sol nunca
matou ninguém.
– Raio de Sol?!... É
assim que costuma chamar o dragão dourado?!...
– Ele é meu amigo.
– Bobagem! Ninguém
pode ser amigo de um dragão. Não percebe que está vivendo uma fantasia que você
mesmo criou na sua mente?!
– Eu não estou
mentindo!
– Não precisa se
alterar... Sei que não está mentindo. Você é uma criança, e as crianças
costumam ter as cabecinhas cheias de sonhos. Inventam coisas não por maldade, e
sim para escapar do mundo dos adultos.
– Se eu lhe provar
que conheço o dragão dourado, e que ele é mais manso do que você ou eu, você
promete que desistirá de matá-lo?
– Sabe que não posso
desistir. Já lhe expliquei por que tenho que matá-lo.
Camilo, percebendo
que sua insistência ia pouco a pouco esfarelando a tênue obstinação de Caio,
resolveu dar-lhe mais uma chance de provar que era diferente dos outros homens
que já haviam tentado capturar Raio de Sol. Pôs-se novamente a cantar a canção
que ele mesmo havia criado:
"Eu sou criança,
A esperança
De um mundo melhor...
A esperança
De um mundo melhor...
Você é um a-..."
Mas Caio
interrompeu-o bruscamente, dizendo:
– Cale-se! Essa
canção pode ser perfeita para você, mas não tem nada a ver comigo. Não sei por
que esse dragão parece ser tão importante para você. Para mim, é um dragão como
qualquer outro e, por incrível que pareça, creio que até já me conformei com a
ideia de matá-lo.
Caio olhou para
Camilo para verificar o efeito de suas palavras. Era como suspeitava: a mesma
expressão contraída, e os dentinhos a morderem o canto do lábio inferior. Caio
teve a nítida impressão de que, se o garoto não fosse tão frágil, se não
tivesse consciência de sua desvantagem, já teria apelado para a agressão
física.
Nesse ponto Caio não
se enganara... Camilo já o tinha visto brigar com aqueles homens que tentaram
assaltá-lo. Caio era forte e corajoso... Nem ele, nem tampouco Raio de Sol
teriam a menor chance de enfrentá-lo, e Camilo o odiava por isso.
O ódio nos olhos de
Camilo era tão cristalino que Caio pôde senti-lo como uma espada fria e afiada
a atravessar-lhe o coração. Caio exclamou:
– Eu desisto!
Embora Camilo
permanecesse calado, nos seus olhos, o ódio já começava a tingir-se de
esperança.
Percebendo isso, Caio
acrescentou:
– É verdade! Eu me
rendo: você venceu! Vamos conhecer o seu dragão dourado.
Um sorriso iluminou
por completo o olhar de Camilo. E Caio, mesmo com receio de que esse sorriso se
apagasse, disse:
– Mas, ouça bem, se
esse seu dragãozinho não for tão manso quanto você diz que é, teremos que dar
cabo dele... Concorda?
O sorriso não se
apagou, e Camilo respondeu:
– Ele é manso; você
verá. Se não fosse por mim, ele já teria morrido. Sou eu que o alimento e o
protejo.
Fingindo acreditar no
garoto, Caio exclamou:
– Você é corajoso!
Mas não acha que essa é uma tarefa muito perigosa para um garotinho da sua
idade?!
Caio ficou intrigado,
quando Camilo respondeu:
– Para ser sincero,
acho sim. Os outros homens que vieram atrás de Raio de Sol não eram como você.
Eram mais cruéis do que corajosos, e Raio de Sol e eu tivemos que dar duro para
nos livrarmos deles. Vai ser muito bom termos você do nosso lado.
Caio abanou a cabeça
e sorriu ao pensar que era Camilo quem parecia um raio de sol, e não o
dragãozinho que ele inocentemente havia criado em sua imaginação.
Camilo também parecia
feliz, e os dois partiram cantando a canção de Camilo.
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