Era uma vez um rei justo e
bondoso. Embora ele tivesse poderes mágicos, ninguém o temia porque ele usava
sua magia apenas em benefício de seu reino. Os seus súditos o amavam e ficaram
imensamente felizes quando ele anunciou o seu casamento com uma mulher que
parecia nutrir por ele sincera afeição.
Oito meses após a promissora
união, uma criança nasceu. Os anos se passavam, o príncipe crescia, e os
desentendimentos entre o rei e a rainha se tornavam mais frequentes a cada dia,
porque o rei não aprovava o excesso de mimos que a rainha dispensava a ele.
Certo dia, o rei disse à rainha:
– Nossos súditos têm
todo o direito de expressar o desagrado e o receio que a conduta de nosso filho
lhes causa. Não podemos puni-los por reagirem quando ele os sobrecarrega com
suas exigências descabidas.
A rainha respondeu com
altivez:
– Esta nossa discussão
e todas as outras seriam desnecessárias se você se dispusesse a fazer o que
sugeri desde o início: Convença o seu povo a respeitá-lo e a cumprir suas
ordens sem questioná-las.
Movendo a cabeça para
os lados, o rei exclamou:
– Eu discordo, porque
isso está errado!... Podemos convencer os nossos súditos a tolerarem o nosso
filho, mas o respeito deles é algo que ele terá que conquistar sozinho!...
A rainha rebateu com
frieza:
– Isso é o que você
pensa. Mas saiba, meu caro, que eu não penso como você!... Poder é sinônimo de
admiração e respeito. Felizmente, de você, ele só herdou a magia.
Mais uma vez a
discussão se encerrava aumentando a distância que havia se estabelecido entre o
casal. O rei se entristecia porque a insatisfação parecia estampada no rosto de
seus súditos. O seu filho, na mais leve contrariedade, erguia os braços e
evocava os seus poderes mágicos. O céu escurecia, e os estrondos de raios e trovões
eram ouvidos em todo o reino. As pessoas, com a respiração suspensa, tremiam de
pavor enquanto a chuva fria e cortante molhava suas vestes.
Houve um dia em que o
bondoso rei disse à rainha:
– A submissão do meu
povo aos desmandos do nosso filho ultrapassou o limite do tolerável!... Hoje
mesmo ele será levado para o...
Sem permitir que o rei
completasse a frase, a rainha afirmou:
– Será você quem ficará
recluso naquele labirinto no interior da floresta, e não o meu filho. O meu
filho, sim, o meu filho, porque ele é só meu!... Eu já estava grávida quando
nos casamos. A magia que ele herdou do mago cujo nome não pode ser revelado é
muito mais poderosa do que a sua. Você se curvará diante da minha vontade e
diante do poder do meu filho.
Naquele mesmo dia, o
príncipe se coroou rei e ordenou que o antigo rei fosse aprisionado no
labirinto. O descontentamento, a pobreza e a miséria substituíram a paz e a
prosperidade que o antigo rei construíra. As pessoas começaram a fugir para os
reinos vizinhos, e a fama do príncipe cruel, que havia se coroado rei, espalhou-se
rapidamente.
Meses depois, sem que a rainha pudesse adivinhar
o motivo, os poderes de seu filho se extinguiram, e o povo começou a desobedecê-lo.
Dentro do castelo, a situação não era diferente. Os sábios ordenaram ao chefe
da guarda real que providenciasse a partida da rainha e de seu filho para um
reino distante. Quando a rainha e o falso rei partiram, o chefe da guarda
recebeu uma nova ordem que o alegrou profundamente: ele deveria chefiar uma
escolta cuja missão seria libertar o verdadeiro rei e conduzi-lo de volta ao
seu trono.
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