O Elfo Azul,
guardião do lago que repousava no coração da floresta das árvores reluzentes,
não conseguia desprender os olhos das águas turvas do lago. Ele sentia que algo
estava errado!... Ele precisava mergulhar naquelas águas traiçoeiras para
descobrir o que havia se escondido em suas profundezas. Ele hesitava, porque
temia ser aprisionado pelas algas gigantes. Ele levantou e começou a se afastar
da margem do lago, mas a intuição, forte demais para ser abandonada, o obrigou
a voltar e fazer o que precisava ser feito: mergulhar em direção a um destino
incerto.
Imerso
naquele líquido viscoso, embora ele conseguisse manter os olhos abertos, ele
sabia que não deveria confiar no que eles lhe mostravam: havia uma mulher
belíssima tentando se desvencilhar das algas que a prendiam como se fossem
poderosas correntes. O Elfo Azul pensou: “A jovem não é real. As algas estão
criando essa ilusão apenas para me atrair.”
O olhar da
jovem, no entanto, fazia com que ele se esquecesse do perigo e começasse a
desejar que ela realmente estivesse ali para que ele pudesse salvá-la. Embora
ele nunca a tivesse visto, ele teve a impressão de que sempre desejara
conhecê-la. Ele já estava se aproximando da jovem quando lembrou que o lago era
encantado. Ele recuou, mas a atração que aquele olhar exercia sobre ele era
mais forte do que o seu desejo de permanecer livre.
Fosse a
jovem real ou não, ele a amava e precisava libertá-la. Ele sabia que aquele
desatino seria o seu fim. Pensou ainda em resistir e abandonar o lago, mas de
que adiantaria continuar vivendo livre na floresta, se continuaria acorrentado
à lembrança daquele olhar que fez aqueles poucos minutos valerem mais do que os
séculos que ele já havia vivido?!...
Revestindo-se
de coragem, o Elfo Azul se aproximou da jovem esperando pelo pior, mas
surpreendeu-se quando as algas a libertaram. Acreditando ter sido traído, ele
murmurou: “Fui tolo em não desconfiar de você!... Apesar disso, prefiro ser seu
escravo a passar a eternidade acorrentado pelas algas.”
O coração do
Elfo Azul revestiu-se de esperança quando a jovem respondeu: “Eu não o traí...
Eu apenas precisava saber se o seu amor seria forte o bastante para convencê-lo
a aceitar viver parte de sua vida no fundo deste lago. Eu sou uma sereia, e
sereias não passeiam pela floresta. O amor uniu os nossos corações, e nada poderá
separá-los.”