CAIO E O DRAGÃO DOURADO (Parte 2)
Uma semana depois,
Caio partiu em busca do dragão, ou melhor, Caio partiu em busca da cabeça do
dragão... Esse era um pensamento deprimente... Caio sabia que estava prestes a
tornar-se um assassino.
Caio não levou
consigo nenhum de seus instrumentos musicais, nem tampouco sentiu vontade de
cantar durante a viagem. Seguia cabisbaixo em seu cavalo negro.
Negro, o seu cavalo
era negro... Mas, ainda mais negra que seu cavalo, ficaria sua alma depois que
ele tivesse decepado a cabeça do infeliz dragão.
Caio franziu as
sobrancelhas cerradas e mordeu o lábio inferior. Decepar!... Como ele odiava
esse verbo!
O caminho pedregoso,
que o levava até a gruta onde se escondia o dragão, parecia interminável. À
medida que Caio avançava, o seu ânimo se extinguia.
Quando se encontrava
já a uma pequena distância de sua vítima, Caio viu-se obrigado a parar para
ajudar um garoto que estava sendo abordado por um grupo de malfeitores.
Felizmente, Caio
sabia lutar e manejar sua espada tão bem quanto conseguia casar as notas em
suas canções de amor, e não demorou muito para que os seus adversários
percebessem isso e se pusessem a correr.
O garotinho, ainda
assustado, agradeceu:
– Obrigado. Se não
fosse por você, a esta altura eu estaria morto.
Caio, guardando sua
espada, disse:
– Não creio que
tivessem a intenção de matá-lo. O que faz aqui? Não parece estar perdido.
– E não estou.
Caio insistiu:
– Não respondeu minha
pergunta. O que faz neste trecho da floresta? Não ouviu falar sobre o dragão?
O menino exclamou
surpreso:
– Dragão?! Não há
nenhum dragão por aqui; se houvesse, eu já o teria visto. Você mata dragões?
Caio respondeu:
– Não, exatamente.
Qual é o seu nome?
– Camilo.
– Meu nome é Caio.
Agora que já nos tornamos amigos, por que não me diz onde mora para que eu
possa levá-lo de volta aos seus pais?
– Não posso voltar
para casa. Aqui é o meu lugar.
– Não diga tolice.
Fugir não o ajudará a resolver seus problemas.
– Não estou fugindo.
Com a intenção de
desviar o assunto, Camilo comentou:
– A sua voz é suave;
aposto que sabe cantar. Quer que eu lhe ensine uma canção?
– Não. Vá andando,
garoto. Siga o seu caminho, que eu preciso seguir o meu.
Quando Caio se
preparava para partir, Camilo começou a cantar:
“Eu sou criança,
A esperança
De um mundo melhor...
Você é um adulto,
Ainda puro;
Um dos poucos que há...
Nós dois unidos
Espalharemos
Confetes de luz
E paz...”
A canção de Camilo,
como uma flecha certeira, atingiu Caio sem dar-lhe tempo para se defender com
seu escudo de amargura.
Camilo tornou a
cantar, e Caio teve que se render... Aquela criança conseguia arrancar de seu
coração os sentimentos que ele teimava em ocultar.
Aproximando-se de
Camilo, Caio exclamou:
– Não sei o que fazer
com você!...
Camilo, sem perder
tempo, sugeriu:
– Deixe-me
acompanhá-lo. Sei que está pensando em matar o dragão... Se é que ele existe!
– Não posso. Você
ainda é muito criança. Por que não volta para casa? Lá estará livre da
violência do mundo.
Para surpresa de
Caio, Camilo perguntou:
– Se eu lhe disser
que volto para casa, você promete desistir de matar o dragão? Sei que não quer
matá-lo.
Caio, amargurado,
fitou o rosto do garoto e respondeu:
– Tenho que matá-lo,
porque é uma questão de honra. Se eu desistir, dirão que sou covarde, e
perderei a oportunidade de me casar com a mulher que amo. Consegue compreender
por que é tão importante para mim matar aquele dragão?
Camilo, pensativo,
respondeu com outra pergunta:
– Por que você não
pode se casar, se não matar o dragão?
– Eu já lhe disse:
tenho que provar que sou corajoso, para poder merecer a mão da princesa
Cândida.
– É ela quem dirá que
você é covarde, se não matar o dragão?
– Você compreendeu.
– Se é assim, não
deveria se casar com ela.
Caio sorriu antes de
perguntar:
– Por que diz isso?
– Porque ela não ama
você.
– Não diga bobagem!
Agora, seja bonzinho e volte para casa. Não posso ficar aqui a tarde toda...
Não percebe que logo estará anoitecendo?
– Pode ir embora, se
quiser... Eu ficarei bem.
– E deixá-lo aqui
sozinho?!... Está certo!... Pode vir, mas terá que prometer que ficará bem
longe da toca do dragão.
Camilo, sorrindo, fez
um ligeiro movimento afirmativo com a cabeça. Após alguns minutos, partiram os
dois montados no cavalo de Caio.
Continua...
Sisi Marques