Uma semana depois,
Caio partiu em busca do dragão, ou melhor, Caio partiu em busca da cabeça do
dragão... Esse era um pensamento deprimente... Caio sabia que estava prestes a
tornar-se um assassino.
Caio não levou
consigo nenhum de seus instrumentos musicais, nem tampouco sentiu vontade de
cantar durante a viagem. Seguia cabisbaixo em seu cavalo negro.
Negro, o seu cavalo
era negro... Mas, ainda mais negra que seu cavalo, ficaria sua alma depois que
ele tivesse decepado a cabeça do infeliz dragão.
Caio franziu as
sobrancelhas cerradas e mordeu o lábio inferior. Decepar!... Como ele odiava
esse verbo!
O caminho pedregoso,
que o levava até a gruta onde se escondia o dragão, parecia interminável. À
medida que Caio avançava, o seu ânimo se extinguia.
Quando se encontrava
já a uma pequena distância de sua vítima, Caio viu-se obrigado a parar para
ajudar um garoto que estava sendo abordado por um grupo de malfeitores.
Felizmente, Caio
sabia lutar e manejar sua espada tão bem quanto conseguia casar as notas em
suas canções de amor, e não demorou muito para que os seus adversários
percebessem isso e se pusessem a correr.
O garotinho, ainda
assustado, agradeceu:
– Obrigado. Se não
fosse por você, a esta altura eu estaria morto.
Caio, guardando sua
espada, disse:
– Não creio que
tivessem a intenção de matá-lo. O que faz aqui? Não parece estar perdido.
– E não estou.
Caio insistiu:
– Não respondeu minha
pergunta. O que faz neste trecho da floresta? Não ouviu falar sobre o dragão?
O menino exclamou
surpreso:
– Dragão?! Não há
nenhum dragão por aqui; se houvesse, eu já o teria visto. Você mata dragões?
Caio respondeu:
– Não, exatamente.
Qual é o seu nome?
– Camilo.
– Meu nome é Caio.
Agora que já nos tornamos amigos, por que não me diz onde mora para que eu
possa levá-lo de volta aos seus pais?
– Não posso voltar
para casa. Aqui é o meu lugar.
– Não diga tolice.
Fugir não o ajudará a resolver seus problemas.
– Não estou fugindo.
Com a intenção de
desviar o assunto, Camilo comentou:
– A sua voz é suave;
aposto que sabe cantar. Quer que eu lhe ensine uma canção?
– Não. Vá andando,
garoto. Siga o seu caminho, que eu preciso seguir o meu.
Quando Caio se
preparava para partir, Camilo começou a cantar:
“Eu sou criança,
A esperança
De um mundo melhor...
A esperança
De um mundo melhor...
Você é um adulto,
Ainda puro;
Um dos poucos que há...
Ainda puro;
Um dos poucos que há...
Nós dois unidos
Espalharemos
Confetes de luz
E paz...”
Espalharemos
Confetes de luz
E paz...”
A canção de Camilo,
como uma flecha certeira, atingiu Caio sem dar-lhe tempo para se defender com
seu escudo de amargura.
Camilo tornou a
cantar, e Caio teve que se render... Aquela criança conseguia arrancar de seu
coração os sentimentos que ele teimava em ocultar.
Aproximando-se de
Camilo, Caio exclamou:
– Não sei o que fazer
com você!...
Camilo, sem perder
tempo, sugeriu:
– Deixe-me
acompanhá-lo. Sei que está pensando em matar o dragão... Se é que ele existe!
– Não posso. Você
ainda é muito criança. Por que não volta para casa? Lá estará livre da
violência do mundo.
Para surpresa de
Caio, Camilo perguntou:
– Se eu lhe disser
que volto para casa, você promete desistir de matar o dragão? Sei que não quer
matá-lo.
Caio, amargurado,
fitou o rosto do garoto e respondeu:
– Tenho que matá-lo,
porque é uma questão de honra. Se eu desistir, dirão que sou covarde, e
perderei a oportunidade de me casar com a mulher que amo. Consegue compreender
por que é tão importante para mim matar aquele dragão?
Camilo, pensativo,
respondeu com outra pergunta:
– Por que você não
pode se casar, se não matar o dragão?
– Eu já lhe disse:
tenho que provar que sou corajoso, para poder merecer a mão da princesa
Cândida.
– É ela quem dirá que
você é covarde, se não matar o dragão?
– Você compreendeu.
– Se é assim, não
deveria se casar com ela.
Caio sorriu antes de
perguntar:
– Por que diz isso?
– Porque ela não ama
você.
– Não diga bobagem!
Agora, seja bonzinho e volte para casa. Não posso ficar aqui a tarde toda...
Não percebe que logo estará anoitecendo?
– Pode ir embora, se
quiser... Eu ficarei bem.
– E deixá-lo aqui
sozinho?!... Está certo!... Pode vir, mas terá que prometer que ficará bem
longe da toca do dragão.
Camilo, sorrindo, fez
um ligeiro movimento afirmativo com a cabeça. Após alguns minutos, partiram os
dois montados no cavalo de Caio.
Continua...
Sisi Marques
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