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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

CAIO E O DRAGÃO DOURADO - Parte 2

CAIO E O DRAGÃO DOURADO (Parte 2)



Uma semana depois, Caio partiu em busca do dragão, ou melhor, Caio partiu em busca da cabeça do dragão... Esse era um pensamento deprimente... Caio sabia que estava prestes a tornar-se um assassino.

Caio não levou consigo nenhum de seus instrumentos musicais, nem tampouco sentiu vontade de cantar durante a viagem. Seguia cabisbaixo em seu cavalo negro.

Negro, o seu cavalo era negro... Mas, ainda mais negra que seu cavalo, ficaria sua alma depois que ele tivesse decepado a cabeça do infeliz dragão.

Caio franziu as sobrancelhas cerradas e mordeu o lábio inferior. Decepar!... Como ele odiava esse verbo!

O caminho pedregoso, que o levava até a gruta onde se escondia o dragão, parecia interminável. À medida que Caio avançava, o seu ânimo se extinguia.

Quando se encontrava já a uma pequena distância de sua vítima, Caio viu-se obrigado a parar para ajudar um garoto que estava sendo abordado por um grupo de malfeitores.

Felizmente, Caio sabia lutar e manejar sua espada tão bem quanto conseguia casar as notas em suas canções de amor, e não demorou muito para que os seus adversários percebessem isso e se pusessem a correr.

O garotinho, ainda assustado, agradeceu:

– Obrigado. Se não fosse por você, a esta altura eu estaria morto.

Caio, guardando sua espada, disse:

– Não creio que tivessem a intenção de matá-lo. O que faz aqui? Não parece estar perdido.

– E não estou.

Caio insistiu:

– Não respondeu minha pergunta. O que faz neste trecho da floresta? Não ouviu falar sobre o dragão?

O menino exclamou surpreso:

– Dragão?! Não há nenhum dragão por aqui; se houvesse, eu já o teria visto. Você mata dragões?

Caio respondeu:

– Não, exatamente. Qual é o seu nome?

– Camilo.

– Meu nome é Caio. Agora que já nos tornamos amigos, por que não me diz onde mora para que eu possa levá-lo de volta aos seus pais?

– Não posso voltar para casa. Aqui é o meu lugar.

– Não diga tolice. Fugir não o ajudará a resolver seus problemas.

– Não estou fugindo.

Com a intenção de desviar o assunto, Camilo comentou:

– A sua voz é suave; aposto que sabe cantar. Quer que eu lhe ensine uma canção?

– Não. Vá andando, garoto. Siga o seu caminho, que eu preciso seguir o meu.

Quando Caio se preparava para partir, Camilo começou a cantar:

“Eu sou criança,
A esperança
De um mundo melhor...

Você é um adulto,
Ainda puro;
Um dos poucos que há...

Nós dois unidos
Espalharemos
Confetes de luz
E paz...”

A canção de Camilo, como uma flecha certeira, atingiu Caio sem dar-lhe tempo para se defender com seu escudo de amargura.

Camilo tornou a cantar, e Caio teve que se render... Aquela criança conseguia arrancar de seu coração os sentimentos que ele teimava em ocultar.

Aproximando-se de Camilo, Caio exclamou:

– Não sei o que fazer com você!...

Camilo, sem perder tempo, sugeriu:

– Deixe-me acompanhá-lo. Sei que está pensando em matar o dragão... Se é que ele existe!

– Não posso. Você ainda é muito criança. Por que não volta para casa? Lá estará livre da violência do mundo.

Para surpresa de Caio, Camilo perguntou:

– Se eu lhe disser que volto para casa, você promete desistir de matar o dragão? Sei que não quer matá-lo.

Caio, amargurado, fitou o rosto do garoto e respondeu:

– Tenho que matá-lo, porque é uma questão de honra. Se eu desistir, dirão que sou covarde, e perderei a oportunidade de me casar com a mulher que amo. Consegue compreender por que é tão importante para mim matar aquele dragão?

Camilo, pensativo, respondeu com outra pergunta:

– Por que você não pode se casar, se não matar o dragão?

– Eu já lhe disse: tenho que provar que sou corajoso, para poder merecer a mão da princesa Cândida.

– É ela quem dirá que você é covarde, se não matar o dragão?

– Você compreendeu.

– Se é assim, não deveria se casar com ela.

Caio sorriu antes de perguntar:

– Por que diz isso?

– Porque ela não ama você.

– Não diga bobagem! Agora, seja bonzinho e volte para casa. Não posso ficar aqui a tarde toda... Não percebe que logo estará anoitecendo?

– Pode ir embora, se quiser... Eu ficarei bem.

– E deixá-lo aqui sozinho?!... Está certo!... Pode vir, mas terá que prometer que ficará bem longe da toca do dragão.

Camilo, sorrindo, fez um ligeiro movimento afirmativo com a cabeça. Após alguns minutos, partiram os dois montados no cavalo de Caio.


Continua...


Sisi Marques



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