CAIO E O DRAGÃO
DOURADO (Parte 6)
As pegadas conduziam
a uma caverna escondida por entre os arbustos. Assim que Caio conseguiu
localizar sua entrada, disse a Camilo em voz baixa:
– Você espera aqui;
vou entrar sozinho para certificar-me de que o lugar é realmente seguro.
Camilo protestou:
– Não pode entrar sem
mim.
– Ouça, todo cuidado
é pouco. Se você entrar comigo, além de proteger a minha pele, terei que
proteger a sua; não percebe que só isso já nos colocaria em desvantagem? Sem
dizer que nem deveríamos estar conversando aqui fora; se ele tiver a audição
aguçada, perceberá a nossa presença.
Camilo insistiu
impaciente:
– Não pode entrar aí
sozinho!
Depois ensaiou um
sorriso maroto, e fez um gracejo:
– A não ser que
queira virar churrasco!...
Caio não teve tempo
de rir das palavras de Camilo. Ele estava certo quando disse que teriam que ser
cautelosos se quisessem surpreender o dragão, em vez de serem surpreendidos por
ele. Com uma ferocidade alucinante, o dragão havia deixado a toca, e emitido em
sua direção um rugido estridente.
Recobrando-se
rapidamente do inesperado ataque, Caio contornou o animal, e saltando em seu
dorso, levantou a espada com a visível intenção de liquidá-lo num único golpe.
Camilo gritou:
– Pare! Por favor,
pare!
Caio atordoado olhou
para Camilo. O garoto estava de joelhos, com o rosto encoberto pelas mãos. Tudo
havia acontecido muito depressa, e Caio teve receio de que Camilo não
suportaria a cena sem desfalecer.
Caio vacilou...
Estava confuso, indeciso... Não sabia o que fazer. Só precisava cortar o ar com
a espada, e estaria tudo terminado. Cortar o ar!... Não seria só o ar que ele
cortaria!... Caio sentiu uma reviravolta no estômago ao imaginar a cabeça do
dragão caindo e rolando na grama.
Não!... Não poderia
matar aquela criatura!... Não poderia matar fosse o que fosse!...
Só que o dragão, como
não tivesse o poder de adivinhar os pensamentos de Caio, tirou vantagem da
situação. Depois de sacudir-se todo, arremessou-lhe a gigantesca cauda,
atirando-o violentamente ao chão.
Camilo, já com o
rosto descoberto, parecia petrificado. Não era bem essa a recepção que esperava
que Raio de Sol desse ao seu amigo. Também não imaginou que Caio ainda
tencionasse matá-lo. Percebeu que era hora de procurar controlar-se e intervir,
para evitar que um dos dois saísse ferido. E foi o que fez. Levantou-se e saiu
correndo para colocar-se entre o dragão dourado e Caio, que ainda estava caído
ao chão.
Caio, ao vê-lo de pé,
parado entre os dois, ficou tão fora de si que, conseguindo levantar-se,
abraçou o garoto para servir-lhe de escudo caso o dragão soltasse uma rajada de
fogo ou avançasse enfurecido.
Caio estava de costas
para o dragão!... Embora soubesse que aquele fora o maior erro que havia
cometido em sua vida, tudo o que fez foi fechar os olhos e começar a rezar,
talvez na esperança de que um milagre acontecesse e os livrasse da morte.
Na sua imaginação, o
seu corpo já sentia o calor da chama. Mas, para o espanto de Caio, tudo o que o
seu corpo realmente sentiu foi uma leve batidinha, que o dragão deu em suas
costas com a cabeça numa demonstração de carinho.
Caio virou-se
surpreso, e fitou o par de olhos enormes que o observavam com doçura. Camilo,
por sua vez, ao se sentir livre do abraço de Caio, olhou para os dois e gritou
de alegria ao perceber que Raio de Sol havia compreendido que Caio era um
amigo, o único amigo que eles conseguiram encontrar em todos aqueles meses de
solidão.
Sisi Marques
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