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domingo, 2 de março de 2014

CAIO E O DRAGÃO DOURADO – Parte 6

CAIO E O DRAGÃO DOURADO (Parte 6)


As pegadas conduziam a uma caverna escondida por entre os arbustos. Assim que Caio conseguiu localizar sua entrada, disse a Camilo em voz baixa:

– Você espera aqui; vou entrar sozinho para certificar-me de que o lugar é realmente seguro.

Camilo protestou:

– Não pode entrar sem mim.

– Ouça, todo cuidado é pouco. Se você entrar comigo, além de proteger a minha pele, terei que proteger a sua; não percebe que só isso já nos colocaria em desvantagem? Sem dizer que nem deveríamos estar conversando aqui fora; se ele tiver a audição aguçada, perceberá a nossa presença.

Camilo insistiu impaciente:

– Não pode entrar aí sozinho!

Depois ensaiou um sorriso maroto, e fez um gracejo:

– A não ser que queira virar churrasco!...

Caio não teve tempo de rir das palavras de Camilo. Ele estava certo quando disse que teriam que ser cautelosos se quisessem surpreender o dragão, em vez de serem surpreendidos por ele. Com uma ferocidade alucinante, o dragão havia deixado a toca, e emitido em sua direção um rugido estridente.

Recobrando-se rapidamente do inesperado ataque, Caio contornou o animal, e saltando em seu dorso, levantou a espada com a visível intenção de liquidá-lo num único golpe. Camilo gritou:

– Pare! Por favor, pare!

Caio atordoado olhou para Camilo. O garoto estava de joelhos, com o rosto encoberto pelas mãos. Tudo havia acontecido muito depressa, e Caio teve receio de que Camilo não suportaria a cena sem desfalecer.

Caio vacilou... Estava confuso, indeciso... Não sabia o que fazer. Só precisava cortar o ar com a espada, e estaria tudo terminado. Cortar o ar!... Não seria só o ar que ele cortaria!... Caio sentiu uma reviravolta no estômago ao imaginar a cabeça do dragão caindo e rolando na grama.

Não!... Não poderia matar aquela criatura!... Não poderia matar fosse o que fosse!...

Só que o dragão, como não tivesse o poder de adivinhar os pensamentos de Caio, tirou vantagem da situação. Depois de sacudir-se todo, arremessou-lhe a gigantesca cauda, atirando-o violentamente ao chão.

Camilo, já com o rosto descoberto, parecia petrificado. Não era bem essa a recepção que esperava que Raio de Sol desse ao seu amigo. Também não imaginou que Caio ainda tencionasse matá-lo. Percebeu que era hora de procurar controlar-se e intervir, para evitar que um dos dois saísse ferido. E foi o que fez. Levantou-se e saiu correndo para colocar-se entre o dragão dourado e Caio, que ainda estava caído ao chão.

Caio, ao vê-lo de pé, parado entre os dois, ficou tão fora de si que, conseguindo levantar-se, abraçou o garoto para servir-lhe de escudo caso o dragão soltasse uma rajada de fogo ou avançasse enfurecido.

Caio estava de costas para o dragão!... Embora soubesse que aquele fora o maior erro que havia cometido em sua vida, tudo o que fez foi fechar os olhos e começar a rezar, talvez na esperança de que um milagre acontecesse e os livrasse da morte.

Na sua imaginação, o seu corpo já sentia o calor da chama. Mas, para o espanto de Caio, tudo o que o seu corpo realmente sentiu foi uma leve batidinha, que o dragão deu em suas costas com a cabeça numa demonstração de carinho.

Caio virou-se surpreso, e fitou o par de olhos enormes que o observavam com doçura. Camilo, por sua vez, ao se sentir livre do abraço de Caio, olhou para os dois e gritou de alegria ao perceber que Raio de Sol havia compreendido que Caio era um amigo, o único amigo que eles conseguiram encontrar em todos aqueles meses de solidão.

Sisi Marques


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